quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Um olhar para a vida

Os sonhos da pré-adolescente Leyde Catarina do Nascimento Silva, 13 anos, apesar da pouca idade e de tudo que já passou na vida, ainda são os mesmos. Com o olhar fixo concentrado em uma punção que perfura um reglete de braille, ela escreve: "quero ser feliz, mesmo não conseguindo mais enxergar". Depois, ainda escrevendo na linguagem de cegos que aprendeu há poucos dias, ela completa com outra frase: "meu sonho hoje é voltar a estudar, para um dia conseguir o objetivo de ser professora".


Leyde Catarina, 13 anos, sonha em ser professora Foto: Carlos Santos/DN/D.A Press
O sonho de Catarina é possível de ser realizado, mas para isso terá que voltar à sala de aula do 6º ano da Escola Estadual Alferes Tiradentes que deixou há um mês porque sua escola não tinha recursos materiais como notebook, gravador e kit de braile, nem profissionais especializados para tratar da cegueira a que foi acometida há um ano e meio devido a um problema de saúde que ainda não se sabe a causa. A adolescente passa agora a integrar um rol de 200 mil pessoas no Brasil que estão fora da escola por serem portadoras de algum tipo de deficiência, um lamentável erro que agride a Política Nacional de Educação Especial Inclusiva.

Além da ausência da sala de aula, a adolescente ainda enfrenta outro sério problema. É preciso identificar a doença que lhe acometeu para ter acesso ao tratamento. Para isso, ela depende do exame "equaporina 4", que é realizado no Rio Grande do Sul e São Paulo que custa R$ 470, mas o SUS negou, restando agora recorrer à Procuradoria Geral da União para garantir o exame. "Ela já fez exame de medula óssea, ressonância, tomografia, tudo, mas falta esse para completar o diagnóstico, mas infelizmente não temos como pagar", explica mãe Edilásia Ferreira do Nascimento Silva.


A via crucis da adolescente até chegar à cegueira começou ainda na infância, quando a mãe percebeu que havia problemas na sua coordenação motora porque faltavam forças para movimentar um lado. O primeiro diagnóstico foi de uma leucodistrofia que desenvolvia uma pasta branca no cérebro,mas os diagnósticos mais recentes indicavam a possibilidade de uma esclerose múltipla ou uma doença desmilizante do sistema nervoso. "Se for a doença desmilizante poderá ter novos surtos e perder outras funções, mas tem tratamento e se for a esclerose múltipla tem tratamento com medicação de alto custo, mas que recebe na Unicat", explica a mãe.


"Quando o problema se agravou, ela ficou com dificuldades de andar e cegou quase completamente, hoje ela só vê vultos e um pouco da luz do dia e quanda anda fica logo cansada". Antes disso, a então menina levava uma vida normal, vivia o dia dia de toda adolescente, brincava, conversava, tinha amigos e amigas e adorava computador e internet. Agora, sua rotina é repleta de visita a consultórios de médicos, fisoterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, psicomotrocidade e ainda faz terapias em grupo. Mais recentemente, Leyde Catarina está aprendendo braille na Associação de Deficientes Visuais do Rio Grande do Norte (ADEVI/RN) como uma forma de poder voltar à escola e poder acompanhar as aulas escrevendo já que antes só escutava e seus professores não lhe avaliavam. Mas ainda enfrentará a dificuldade de conseguir um professor que também conheça o método.


Fonte: Diário de Natal
Betinho Alves

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