terça-feira, 14 de junho de 2011

PROFESSOR OLHODAGUENSE DEFENDE ESTUDANTES

Comentario do Professor Adaecio Lopes sobre o Projeto de Auxílio aos Estudantes - PAE


Saúdo a todos com grande alegria pela iniciativa de protestar em relação ao Projeto de Auxílio aos Estudantes. Como falei em outro texto, cidadania é algo que se constrói no embate, não é algo que se institui por decreto, como pensam os governantes e seus artifícios jurídicos.

Nesse sentido gostaria de sugerir – veja é uma sugestão não uma crítica – que os anônimos começassem a se identificar, pois no anonimato fica muito subjetivo. Esse processo de identificação faz parte inclusive do nosso amadurecimento enquanto parte de uma comunidade, pois quando assumimos a nossa identidade e falamos em nome dela estamos implicitamente assumindo e fazendo ver que não temos medo de governo nenhum nem de ninguém, pois vencemos o medo maior que é o de assumirmos nossas posições, nossas responsabilidades e indo até o fim com nossos compromissos e convicções. Isso que estou falando circunscreve-se ao campo da sociabilidade, digamos, do embate político, já que creio, assim como Aristóteles, que o homem é um animal político.

Não estou de forma alguma falando em nome de uma ideologia maior ou de uma revolução geral, até porque acredito que a revolução está acontecendo a cada instante em cada um de nós, mas em contrapartida não podemos nos furtar dos nossos compromissos políticos. Até porque a política institucional como a conhecemos, há muito tempo não responde mais ao que se propôs quando da sua constituição. O mundo mudou, as estratégias de comunicação mudaram, as discussões, os encontros, as reuniões estão acontecendo a todo instante e em todos os lugares, nas tribos juvenis, nos becos, nas praças, na internet e etc.. Não estão se restringindo aos parlamentos. Os protestos estão vindo de todos os lados e isso é positivo, a menos que se tenha uma postura reacionária. Os interesses que unem as pessoas hoje pode não ser os de amanhã, ou seja, a estrutura é flexível, diferente da organização partidária usual, onde existe uma certa rigidez metodológica característica do modelo de pensamento político que a constituiu historicamente. Um exemplo disso, dessa instantaneidade das organizações políticas atuais, pode ser tirado do movimento Fora Micarla aqui em Natal, onde os membros que estão à frente são um anarquista (que não acredita que os governos podem resolver os nossos problemas), um militante do movimento contra a homofobia e um jovem filiado ao partido dos trabalhadores. Como podemos perceber estes jovens nesse momento estão juntos em prol de uma questão, mas daqui a pouco, ou até de forma paralela, estão pensando outras questões que já não mais lhes colocam numa mesma tribuna.

Sobre essa questão do auxílio todos nós sabemos o que pode acontecer. Desde que eu morava na Casa do Estudante em Natal que é assim, alguns recebiam e outros não – vale salientar inclusive que eu não recebia, trabalhando na biblioteca para pagar minha quinzena (que para minha felicidade não era um trabalho, mas uma diversão, pois lá encontrei alguns dos companheiros que me acompanham até hoje, através das mensagens deixadas por eles em seus livros – lembrar sempre daquela sentença do Sartre: “não importa o que façam de você, mas o que você faz do que fazem de você”). Não é apenas devido a esta seleção que as coisas vão mudar, pois a lei é um instrumento de formalização das relações humanas – que muitas vezes até dificulta para aqueles que não têm acesso aos mecanismos de representação –, ela não garante muitas vezes nada, quem faz valer a lei é o povo, a massa, o grupo ao qual ela se dirige. Muitas leis surgem e com um tempo nem sequer são lembradas, pois não foram ressonantes com os anseios populares. Afinal o poder emana do povo, e isso ninguém pode negar.

Um abraço a todos

Professor Adaecio Lopes

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