sexta-feira, 17 de junho de 2011

IFRN,FRAUDE?

TTA PAIVA
Da Redação

O articulista da revista Veja Reinaldo Azevedo acusa o Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) de cometer fraude intelectual no concurso público realizado no último dia 12, para contratação de professores de Língua Portuguesa. Segundo ele, em texto publicado na última terça-feira, 14, em seu blog, o Instituto fez patrulha ideológica, induziu os candidatos ao erro e atribuiu ao escritor português Luis Vaz de Camões o que ele nunca escreveu.
Reinaldo, conhecido como um dos mais polêmicos colunistas do país, disse que as provas continham erros graves e que parte delas devem ser anuladas, principalmente as questões retiradas do texto "Restaurar é preciso; reformar não é preciso", publicado na edição 2.025 da Veja, de 12 de setembro de 2007. "Ele serviu de referência para seis questões. Cinco delas têm de ser anuladas", denuncia.
De acordo com ele, o artigo que escreveu foi submetido a um crivo ideológico e teve seu sentido deturpado. "Atribuíram-lhe um conteúdo comprovadamente falso. Pior: o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte induz os candidatos a um erro no que diz respeito à gramática, além de atribuir a Camões o que ele nunca escreveu. Escárnio: o concurso seleciona professores de língua portuguesa!", enfatiza Reinaldo.
Em seu blog, ele escreve o texto que foi utilizado na prova e depois vai esmiuçando as questões apontando os erros e apresentando as respostas corrigidas. De acordo com Azevedo, foram colocadas como certas respostas erradas nas questões 1, 2 e 4.
Além disso, o articulista acusa a comissão do concurso de modificar um verso de Camões, mudando totalmente o seu sentido. "Estupidez. A transcrição do trecho de Os Lusíadas traz dois erros que alteram o sentido de maneira grotesca. O mais grave está no verso 16: onde se lê 'há tanto', o certo é 'a tanto'; onde meteram um verbo, Camões escreveu uma preposição! Inexiste aquele ponto final do verso 5; se ele estivesse lá, o que vem depois seria um anacoluto. Que turma é essa capaz de fazer essa miséria com Camões?", questiona.
Reinaldo Azevedo sugere que os candidatos que se sintam lesados e queiram recorrer à Justiça podem usar o seu "post" publicado em seu blog como suporte. "Eu sou o autor. Eu sei o que escrevi. E o Instituto mentiu sobre o meu texto", completa.

TEXTO
O texto de Reinaldo Azevedo está disponível na internet, por meio do endereço eletrônico http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo.

IFRN
A pró-reitora de ensino do IFRN, Ana Catarina Dantas, disse que tomou conhecimento das acusações de Reinaldo Azevedo ainda na terça-feira, 14, mas, como se trata de uma questão bem específica, não pode se pronunciar até que tenha uma posição do Ministério da Educação (MEC). "Não vamos nos posicionar em relação ao que ele (Reinaldo) escreveu porque esperamos o posicionamento do Ministério da Educação", enfatizou.
Ana informou que o concurso foi organizado por uma comissão do próprio instituto, designada pelo reitor Valdemar Belchior.

Professoras dizem que existiam outros erros
A professora das redes estadual e municipal de Apodi Rokátia Kleania, especialista em Língua Portuguesa, que fez a prova no último domingo, 12, disse que já tinha detectado alguns erros na prova. "Eu até ri quando recebi a prova. A palavra contexto, por exemplo, aparece várias vezes nas questões escrita como 'cotexto'", disse.
Rokátia contou que já tinha discutido essas questões com duas colegas que foram com ela até Natal fazer a prova e, como ela, pensam em entrar com recurso. "Falamos dos erros sem saber da deturpação com relação ao texto de Camões e de Reinaldo Azeredo", complementou.
De acordo com a professora, a prova era difícil, mas estava complexa. "As questões eram de difícil interpretação", enfatizou.
A especialista em literatura Milka Patrícia de Souza, professora experiente no mercado de Mossoró, disse que achou a prova muito difícil. "A pontuação geral foi baixa", reclamou. Para ela, as questões de literatura estavam muito "escorregadias". "Questões que eu, com certeza, não erraria, errei", completou.
Milka disse ainda que a questão 17 da prova tinha duas respostas idênticas. "Com certeza será anulada, porque a alternativa A reaparece na alternativa D", enfocou.
Ela acredita que as observações de Reinaldo Azevedo têm sentido e devem ser consideradas, por ele ser o autor do texto analisado. "É muito erro para um concurso que tem um compromisso tão sério", criticou.
Advogados orientam candidatos a recorrer
O advogado Verlano Queiroz disse que, nesse caso, as pessoas que se achem prejudicadas devem recorrer administrativamente, solicitando o cancelamento das questões e que a pontuação seja estendida a todos os candidatos. "Administrativamente, anular todo o procedimento não é possível", explica.
Ele diz que o texto de Reinaldo Azevedo é um indício de prova, porque é a partir desse texto que surge o indicativo de irregularidade. Para Verlano Queiroz, se os candidatos não tiverem sucesso com o processo administrativo, devem procurar a Justiça. "Nesse caso, pode-se pedir que o concurso não seja homologado até que o mérito da ação seja julgado e, inclusive, a anulação do próprio concurso", enfatiza.
O advogado Lindocastro Nogueira afirma que são recorrentes os problemas com os concursos do Instituto Federal do Rio Grande do Norte. "Falta clareza nos editais. Quando o candidato não sabe as regras do jogo, isso causa insegurança e dá margem para recursos", finaliza Lindocastro Nogueira.

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