sábado, 13 de agosto de 2011

EDUCAÇÃO DO RN PRECISA MELHORAR, AFIRMA GOVERNO.

Os problemas na rede estadual de Educação vão além de instalações precárias. O Estado é um dos poucos do país que não possui um Plano Estadual de Educação, atualizado e moderno. Na manhã de ontem, a governadora Rosalba Ciarlini, reconheceu que a situação é preocupante e anunciou que, em setembro, vai convocar todos os prefeitos, gestores e especialistas de educação para uma mobilização em favor da educação. O principal foco será a elaboração do Plano Estadual de Educação a longo prazo.
elisa elsieGovernadora Rosalba Ciarlini defende a elaboração de um  plano estadual de educação ainda este anoGovernadora Rosalba Ciarlini defende a elaboração de um plano estadual de educação ainda este ano

"Como é que um Estado como o nosso não tem um Plano Estadual, atualizado e moderno, para, pelo menos dez anos, que seja permanente. Não se pode construir uma boa educação sem continuidade", afirmou a governadora em entrevista à TRIBUNA DO NORTE.

Durante o seminário "Agenda para mudanças curriculares no Ensino Médio", no auditório do CTGAS, a governadora lamentou os índices do estado. "O resultado do ensino médio no Rio Grande do Norte é um desastre, é péssimo, e digo isso com base nos indicadores do Ideb, do ano passado", afirmou. Em 2010, o Rio Grande do Norte obteve a segunda pior nota - 3,9, ficando atrás apenas do estado do Piauí.

Segundo Rosalba, em 2010, o governo do estado recebeu R$ 42 milhões, extras, do Ministério da Educação para investimento no ensino médio. "Os resultados desses investimentos não apareceram. Não vimos resultados práticos. Não houve nenhuma melhoria", afirmou.  Ela disse que os baixos indicadores não  significam que não existem boas escolas.

"Temos escolas de excelência. Temos escolas que tem Ideb acima da média nacional, mas é uma aqui outra ali. Queremos que todas possam ser melhor", anunciou. A governadora disse que a greve atrapalhou os planos do governo. A ideia era lançar a campanha de mobilização em maio. O objetivo é mostrar o diagnóstico da educação e abrir um debate sobre perspectivas e planejamento da educação. "Se não tiver uma ação articulada com os municípios não melhora. Como o ensino médio vai ser melhor se o básico não melhorar".

Hoje, de cada dez alunos que sai do ensino fundamental somente 3,5 termina o ensino médio, segundo dados da Secretaria Estadual de Educação e Cultura. "Isso é uma coisa triste. Mostra exatamente a falta de estímulo", afirmou a governadora, ressaltando a necessidade de associar o profissionalizante ao ensino médio. O seminário realizado ontem foi promovido pela Comissão Especial do Plano Nacional de Educação, da Câmara dos Deputados, presidida pelo deputado Rogério Marinho.

Segundo a secretária estadual de Educação, Betânia Ramalho, os recursos extras liberados em 2010, pelo MEC foram exclusivos para apoio ao ensino médio, considerando que a universalização desse nível é meta prioritária do governo federal. "Foram feitos investimentos em formação, que não repercutiu, por falta de um foco prioritário e de projetos que sejam promissores ao longo de anos".

Segundo ela, "se esperava que o ensino médio não só com esse dinheiro, mas com todos os projetos vinculados a ele, tivesse ganho de estrutura, não só construções de prédios, mas também em qualidade". A secretária disse que é preciso vislumbrar uma estrutura pensada para acolher o ensino médio na sua diversidade. Betânia Ramalho afirmou que o diagnóstico que se tem é desanimador, "do ponto de vista do que se deixou fazer". Mas o governo tem esperança de "colocar a locomotiva nos trilhos".

A SEED está preparando um planejamento para buscar recursos extras no MEC, a exemplo do que aconteceu ano passado. "Vamos focar o ensino, a aprendizagem e a diversidade da formação. O ensino médio tem que ganhar status porque a população carente, que precisa da rede pública quer ter uma oportunidade para alavancar o futuro".

Bate-papo

Cláudio Moura Castro, Especialista em Educação e mestre em Economia e Filosofia

"O ensino médio no Brasil é o único no mundo que só tem uma opção e dentro dessa opção não há oportunidades de escolha. É um modelo impossível. É um desastre trágico". A opinião é do especialista em Educação, Cláudio Moura Castro, que esteve em Natal, ontem, para conferência no seminário "Agenda para mudanças curriculares no Ensino Médio". Para o especialista a atual legislação do ensino médio é um convite à desobediência civil.  Respeitado internacionalmente, na área de educação, Cláudio de Moura Castro é mestre em Economia e Filósofo. Publicou dezenas de livros e, atualmente, é conselheiro do Departamento de Desenvolvimento Sustentável do Banco Interamericano de Desenvolvimento e presidente do Conselho Consultivo da Faculdade de Pitágoras, além de manter uma coluna quinzenal na revista Veja. Confira a entrevista!

Que conceito o senhor dá para o ensino médio no Brasil?

O ensino médio no Brasil é o único no mundo que só tem uma opção e dentro dessa opção não há oportunidades de escolha. É um modelo impossível. É um desastre trágico. Você tem o aluno mais brilhante até o que chega no ensino médio analfabeto, pela lei ele tem que fazer a mesma coisa. Em nenhum país do mundo isso é assim. Ou o Brasil está certo e o mundo todo está errado. Ou o Brasil está errado. Qual é a probabilidade que se tem nessas duas alternativas?

Quais seriam os gargalos do ensino médio?

Um deles é esse de que você não tem alternativa. Todo mundo tem de fazer a mesma coisa. Depois tem disciplina demais, 15, e ainda o inglês. Dentro de cada disciplina, tem um programa super, hiper ambicioso, muito difícil, de muita detalhe. Acaba que é tão ambicioso que não dá pra fazer nada, então o professor termina sem nenhuma orientação do estado sobre o que você vai fazer na sua escola. Onde tem coisa demais não se aplica nada. E como a gente só aprende quando aplica, o fato de não aplicar significa que não aprende.

Está aí as razões da evasão?

Claro. A escola é chata. Se você perguntar a um aluno de escola pública, o que ele usa do que aprende na sala de aula, ele não vai saber dizer porque ele não usa nada. O que ele aprende hoje não serve pra nada. É puramente decoreba.

A arquitetura do ensino médio está distorcida?

Ela está equivocada. Se não mudar podemos até ter alunos que aprendem em escolas boas, mas remando contra o sistema, contra as normas. Ele aprende apesar de o sistema ser ruim. Hoje, ao invés de o sistema favorecer o aprendizado, ele dificulta o aprendizado.

Então quais são as soluções?

Bom, solução mais dramática é fazer com que o currículo seja o que diz Whitehead [matemático e filósofo britânico]: tudo que for aprendido tem de ser em profundidade. E pra mim o currículo é: apender a ler, aprender a ouvir, aprender usar números para resolver problemas do mundo real e aprender a pensar. Está aí o currículo, não precisa de mais nada.

E a proposta de um ensino médio diversificado?

Isso está mal no plano e também no relatório do Conselho Nacional de Educação. A ideia é reforçar os tradicionais conteúdos dos vestibulares, mas também ampliar o leque de possibilidades dos alunos, com preparação profissional e formação ética, só que isso é inviável com o número excessivo de matérias que tem o ensino médio. A proposta mantém as 16 disciplinas. Eu fiquei estarrecido de ver que o documento do CNE registra a existência dessas matérias todas e não se desespera. Eu se tivesse no conselho estava esbravejando, mas o conselho diz: vamos diversificar. E ai mostra todas as matérias obrigatórias. Não há como diversificar. E se puser o ensino técnico concomitante, o aluno pode ter que fazer 25 matérias diferentes por ano.

Hoje, no caso do ensino técnico, há muita distância entre o que a escola pode oferecer, o que  o aluno quer e o que o mercado exige?

Tem uma distância grande. Agora, quando você pega o ensino técnico, como o do Senai, altamente especializado; e de algumas escolas técnicas federais,  ele é bom, principalmente o pós-médio que é muito melhor que o concomitante. Quando chega no pós-médio o aluno já se livrou daquela maldição das disciplinas excessivas, aí ele passa um ano aprendendo a profissão. Mas o MEC não gosta disso, ou melhor dizendo, não é o MEC, são os ideólogos do MEC que não gostam disso.

Há deficiência principalmente na formação de professores. Falta uma Capes para qualificação de educadores do ensino médio e técnico?

Você não tem bons programas que financiem a formação de professores na área técnica. E no acadêmico, falta gente para ensinar matemática e ciências naturais.

O CNE e a Câmara Federal estão discutindo uma agenda para o futuro, mas e o agora, o que é possível mudar com as normas que se tem?

Tem duas maneiras. Uma é você mudar a norma; outra é você não cumprir a lei, que é mais prático a curto prazo. Você finge que cumpre e não cumpre. A lei do jeito que está é um convite à desobediência civil. Nós temos que ter um momento de desobediência civil na lei do ensino médio, que é o que acontece nas escolas boas. Aposto que se for na melhor escola privada de Natal o professor física é engenheiro. Agora, a escola pública é obrigada a contratar um cara que é professor de geografia, para lecionar física, mas o que importa para a lei é que ele tem diploma de professor. Na verdade, isso não adianta nada para ensinar física.

Quais é o remédio para o a educação no Brasil?

É o professor chegar na sala de aula e dizer o que eu tenho de fazer para essa sala de aula ser boa e o aluno aprender. Se a gente não consegue mudar a lei, é apesar da lei. Se a gente conseguir uma lei melhor, será com o auxílio dela.

Fonte: Tribuna do Norte

0 comentários:

Postar um comentário