terça-feira, 22 de maio de 2012

Depressão: de pai para filho

Acredite: milhões de meninos e meninas Brasil afora enfrentam as dores da alma ao longo da infância ou da adolescência. E o pior: com altos índices de reincidência depois das primeiras manifestações. O mais impressionante, no entanto, é o que revelam dois recentes estudos americanos, um da Universidade de Vanderbilt e outro do Johns Hopkins Children’s Center. Eles mostram que filhos de pais depressivos ou com desordens de ansiedade são até sete vezes mais suscetíveis do que outras crianças a apresentar esse tipo de transtorno. Felizmente, também de acordo com as duas pesquisas, dá para interromper o ciclo desses distúrbios psicológicos de forma precoce.
“Esses problemas, que incluem a síndrome do pânico e as fobias, resultam de uma combinação entre predisposição genética e fatores ambientais”, resume a psiquiatra infantil Ana Kleinman, coordenadora do Programa de Transtornos do Humor da Infância e Adolescência (Proman) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Pais depressivos ou ansiosos, além dos genes que transmitem aos filhos, podem ter maior difi- culdade para dar a atenção de que a moçada precisa”, acredita.
A falta de paciência, a agressividade e a indiferença dos adultos podem gerar uma sensação de abandono emocional na garotada. E, para complicar tudo, essa turma teme ver o pai ou a mãe reagir mal diante de suas necessidades. No consultório de Ana, por exemplo, a cena é relativamente comum: ao perguntar a seus jovens pacientes se acham que a vida se passa em uma tela de TV em preto e branco, em geral a médica ouve respostas que refletem angústias e perturbações atípicas da faixa etária.
Com olhares esquivos, voz baixa e dicção lenta, os meninos expressam, a partir dessa provocação, quanto o mundo à sua volta perdeu o brilho e a cor. E começam a buscar explicações para a falta de prazer, o tédio e a desesperança. De acordo com a situação, tentam entender por que passaram a ficar irritados por tudo, sempre prontos para brigar com pais, amigos e professores. Ah, sim, o sinal de que algo não vai bem costuma soar tanto em casa quanto na escola. Não é raro que a queda no desempenho durante as aulas seja a primeira chamada para o estado de melancolia que se instala.
O mal-estar em uma idade precoce, obviamente, causa culpa nos pais. Mas é preciso esquivar-se desse sentimento. Adultos também são vítimas das mazelas emocionais. “Muitos nos procuram porque seus filhos não estão bem e depois descobrimos que eles precisam de ajuda tanto quanto os jovens”, confirma a psiquiatra Ana Kleinman. O psicólogo Roberto Banaco, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, vai além: “O risco de insucesso é grande quando só a criança recebe terapia”.

Fonte: Robson Pires

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